Elas contam o tempo para você, guardam seu dinheiro, fazem
seu café, lavam sua roupa, armazenam suas fotografias, te proporcionam
entretenimento, verificam e mantém a sua saúde, levam você até o trabalho e executam
infinitas outras coisas das quais você nem se dá conta no dia-a-dia.
Já parou para pensar no quanto temos confiado nossas vidas a
criaturas que não possuem nada em comum com nossa espécie? As chamo criaturas e
as classifico como uma espécie, pois foram criadas por alguém e habitam entre
nós. Elas se alimentam, possuem tarefas e muitas são até mais úteis do que eu. A
evolução da tecnologia já chegou num ponto em que ninguém mais consegue ter
noção de que tipos de máquinas e recursos existem por aí, nem que tipo de
tarefas uma máquina já é capaz de executar... Outro dia vi uma que é
capaz de compreender as expressões humanas. Para que será que irão utilizá-la?
Máquinas que te arrancam gargalhadas, frívolas e outras que podem executar
exames e cirurgias. E cada máquina aceita e executa sua tarefa sem cansar,
reclamar ou se revoltar. São trabalhadoras sérias ao contrário dos humanos.
Nossos amigos agora não são mais encontrados pessoalmente e
recebidos com um grande abraço. Hoje, podemos encontrá-los em rede através das
máquinas. Se eu desejo observar um lindo pôr-do-sol, basta uma busca, escolho a
imagem de pôr-do-sol que eu quiser e lanço na minha tela de alta resolução. Não
tenho a brisa, não sinto a temperatura caindo conforme o sol vai saindo de
cena, mas tudo bem. Me deixo representar e busco representações pelas máquinas.
Fico pensando então o quanto de vida eu perco entre elas e não consigo concluir se perco ou se ganho. Se não fossem as máquinas,
eu jamais conheceria certos autores e artistas, certos lugares... Mas não sei medir até aonde
isso é bom. Equilíbrio deve ser a medida, mas ainda não a encontrei
neste caso, pois na hora em que acordo já lido com as máquinas e na hora que vou deitar outras estão lá velando meu sono.
Começo a acreditar que já não somos a espécie dominante no planeta.