As redes sociais surgiram depois da internet. A necessidade
do contato social se tornou, a partir daí, uma coisa estranha e diferente do
que deveria ser.
No meu tempo (falando assim pareço idosa), você se
encontrava pessoalmente, socializava numa roda de amigos, num boteco, num
encontro de família. Mas agora não.
Agora, aquele desabafo que você faria somente para seus
amigos é ‘postado’ no seu ‘mural’, possibilitando que sua tia implicante veja e
pense que é com ela. Então, aquela frase em poucos caracteres pode se
transformar em uma típica lavação de roupa suja.
A ausência de expressões faciais, tons diferenciados de voz
e linguagem corporal fazem com que tudo seja interpretado em concordância com a
vibe do cidadão que está lendo. Ou seja, a chance de alguém que está (ou vive)
de mau humor achar que você quis xingar, ofender ou blasfemar é muito maior
on-line do que ‘fuça-a-fuça’.
Infelizmente, criamos um laço tão forte com esta maldição,
que o simples ato de apagar sua conta, pode ser prejudicial em diversos
aspectos, incluindo o profissional.
Chamo de maldição porque graças a este mecanismo de ‘manter
contato’, nós criamos uma ilusão de dependência. Acreditamos que existem
pessoas com as quais perderíamos o contato se não fossem as redes sociais. No
entanto, as pessoas que já fizeram sua contribuição em nossas vidas e com as
quais deveríamos realmente perder o contato ficam lá; numa lista numerosa de
perfis com os quais você raramente, ou nunca se relaciona além de uma ‘curtidinha’
educada e ocasional.
Na verdade, continuamos sustentando um mecanismo que toma
tempo no nosso dia-a-dia para nos deixar enfeitiçar por ilusões de amizade.
Vemos, constantemente, pessoas que reclamam da intromissão
alheia em assuntos particulares, que após serem expostos na rede, deixam de ser
tão pessoais assim...
Com o advento da fofoca on-line, nos chegam aplicativos com
o intuito de nada além de difamação alheia. E assim nossos valores conseguem
cair e afundar mais ainda na merda.
Pessoas infelizes, que tentam disfarçar no mundo digital,
podem secretamente difamar e usar indevidamente imagens de seus desafetos, ou
até daqueles a quem invejam.
Acredito que já passamos há tempos dos limites do que
realmente deveria ser o convívio social aceitável, pois on-line, o anonimato é
a arma utilizada para tornar ainda mais grave um boato e talvez provocar
problemas sérios nas vidas das pessoas.
Porque parece que muitos esqueceram que perfis são as vidas
das pessoas em uma dimensão digital e que isso afeta a vida real.
E quem cria essas ferramentas, parece não se importar e
parece também não imaginar que o feitiço pode se voltar contra quem o lançou...
É por isso que me permito ficar a parte das novidades e me
limito ao que já me expus quando escolhi ter um perfil numa rede social. Já
tenho problemas reais com os quais preciso conviver e tenho o direito de me
privar dos problemas virtuais.
Fernanda Vox
“Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação.
Caráter é aquilo que você é, reputação é apenas o que os outros pensam que você
é.”
John Wooden
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