quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A arte do insulto



As redes sociais surgiram depois da internet. A necessidade do contato social se tornou, a partir daí, uma coisa estranha e diferente do que deveria ser.
No meu tempo (falando assim pareço idosa), você se encontrava pessoalmente, socializava numa roda de amigos, num boteco, num encontro de família. Mas agora não.
Agora, aquele desabafo que você faria somente para seus amigos é ‘postado’ no seu ‘mural’, possibilitando que sua tia implicante veja e pense que é com ela. Então, aquela frase em poucos caracteres pode se transformar em uma típica lavação de roupa suja.

A ausência de expressões faciais, tons diferenciados de voz e linguagem corporal fazem com que tudo seja interpretado em concordância com a vibe do cidadão que está lendo. Ou seja, a chance de alguém que está (ou vive) de mau humor achar que você quis xingar, ofender ou blasfemar é muito maior on-line do que ‘fuça-a-fuça’.

Infelizmente, criamos um laço tão forte com esta maldição, que o simples ato de apagar sua conta, pode ser prejudicial em diversos aspectos, incluindo o profissional.
Chamo de maldição porque graças a este mecanismo de ‘manter contato’, nós criamos uma ilusão de dependência. Acreditamos que existem pessoas com as quais perderíamos o contato se não fossem as redes sociais. No entanto, as pessoas que já fizeram sua contribuição em nossas vidas e com as quais deveríamos realmente perder o contato ficam lá; numa lista numerosa de perfis com os quais você raramente, ou nunca se relaciona além de uma ‘curtidinha’ educada e ocasional.
Na verdade, continuamos sustentando um mecanismo que toma tempo no nosso dia-a-dia para nos deixar enfeitiçar por ilusões de amizade.

Vemos, constantemente, pessoas que reclamam da intromissão alheia em assuntos particulares, que após serem expostos na rede, deixam de ser tão pessoais assim...
Com o advento da fofoca on-line, nos chegam aplicativos com o intuito de nada além de difamação alheia. E assim nossos valores conseguem cair e afundar mais ainda na merda.

Pessoas infelizes, que tentam disfarçar no mundo digital, podem secretamente difamar e usar indevidamente imagens de seus desafetos, ou até daqueles a quem invejam.
Acredito que já passamos há tempos dos limites do que realmente deveria ser o convívio social aceitável, pois on-line, o anonimato é a arma utilizada para tornar ainda mais grave um boato e talvez provocar problemas sérios nas vidas das pessoas.
Porque parece que muitos esqueceram que perfis são as vidas das pessoas em uma dimensão digital e que isso afeta a vida real.
E quem cria essas ferramentas, parece não se importar e parece também não imaginar que o feitiço pode se voltar contra quem o lançou...
É por isso que me permito ficar a parte das novidades e me limito ao que já me expus quando escolhi ter um perfil numa rede social. Já tenho problemas reais com os quais preciso conviver e tenho o direito de me privar dos problemas virtuais.

Fernanda Vox

“Preocupe-se mais com seu caráter do que com sua reputação. Caráter é aquilo que você é, reputação é apenas o que os outros pensam que você é.”

John Wooden

Nenhum comentário:

Postar um comentário