quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Há tinta na pele

Num mundo já tão cheio de preconceitos e padrões deturpados sobre o aceitável, eis que ainda existem aqueles que somam mais um tipo de discriminação: contra pessoas tatuadas.

Tudo indica que o hábito de se tatuar é tão antigo quanto a humanidade, mas como não é possível encontrar corpos de tão longa data ainda em condições de se analisar a pele, me baseio em múmias do Antigo Egito. Amunet, uma mulher que teria vivido entre 2160 e 1994 a.C. apresenta traços e pontos inscritos na região abdominal - indício de que a tatuagem, no Egito Antigo, poderia ter relação com cultos à fertilidade. E ela não é a única. Com estes e outros motivos, as tatuagens eram comuns entre os membros da sociedade egípcia.



Além da civilização egípcia, gregos e romanos também se utilizavam do recurso tanto no culto às divindades, quanto para dividir as classes sociais. Existem também muitas tribos indígenas se utilizam das tatuagens, mas no decorrer da história da humanidade, as marcas permanentes na pele foram utilizadas para identificar piratas, criminosos, fugitivos e prisioneiros. E devido a esta fase do uso das tatuagens é que se deu início à transformação da arte em um símbolo de transgressão e rebeldia.

Mas esse tempo passou. Vivemos novos tempos, e hoje temos todo tipo de pessoas tatuadas. Sejam elas pessoas do bem ou pessoas cruéis, qualquer pessoa pode escolher se tatuar atualmente.
O objetivo pode variar para cada um, mas vou definir o foco maior das tatuagens hoje como permitir ao indivíduo registrar sua própria história, carregando-a na pele não importando o tempo e o lugar.

Marcar na pele, imagens que dão pistas sobre quem eu sou é uma coisa que me diverte e que me aproxima da arte e do desenho que são coisas que amo. Não quero afrontar ninguém, nem chocar ninguém, mas infelizmente não fico isenta de olhares de espanto e até de medo.

Percebo que a abordagem e o tratamento que recebo mudam quando exponho a tinta da minha pele. É como se eu fosse vista como outro tipo de criatura quando estou com os bracinhos de fora... Às vezes acho graça, às vezes tenho vontade de mostrar o dedo do meio... Hehehe

O que quero, é deixar claro que tatuagens não definem caráter. Tem muito bandido por aí usando terno e gravata. Tem muito bandido por aí "louvando o senhor". Tem muito bandido por aí que trabalha de carteira assinada, mas nem por isso eles necessariamente têm tatuagens... Mau caráter não usa crachá. Sinto informar...

99,9% das pessoas que amo e pelas quais tenho respeito são tatuadas, e admito que me magoa um pouco saber que elas podem passar por um preconceito assim tão babaca (como os preconceitos são).
Então, quando você ver um tatuado na rua, saiba que é somente mais uma pessoa: porque a única diferença entre um tatuado e uma pessoa sem tatuagens é que o tatuado não se importa com o fato de você não ter tinta na pele...

Fernanda Vox

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